sábado, 26 de março de 2016

A cobertura da Rua do Comércio

As fotografias apresentam o que eu irei ver ao passear na Rua do Comércio, durante uma tarde de Primavera, depois de colocadas as placas de policarbonato (Que são assim umas placas de plástico transparentes e que às vezes mudam de cor)
O texto que se segue foi publicado no Jornal Terras da Beira de 24/03
No debate de opinião sobre o projecto da cobertura para a Rua do Comércio, não devemos cair em maniqueísmos, ou no pobre argumentário de que haverá sempre quem goste e quem não goste, mas antes equacionar uma série de questões abrangentes e desapaixonadas, que poderão servir de reflexão para decisões futuras.
A valorização visual daquele espaço urbano deverá ter um efeito atrativo, positivo e convergente, daí que qualquer intervenção urbanística deverá ser bem ponderada.
Será que a cobertura que o projecto apresenta, valoriza ou desvaloriza o espaço?
Aquela rua e toda a envolvente têm um património construído e imaterial, inserido na malha urbana do Centro Histórico cuja leitura arquitectónica se conjuga com o largo anterior, o da Igreja da Misericórdia e posterior, o da Sé, património com alto valor artístico.
Quando o transeunte faz o percurso da Rua do Comércio, fica surpreendido com o que encontra na términus da mesma: a Catedral e o espaço envolvente. Por isso qualquer elemento urbanístico a introduzir não poderá descaracterizar e despersonalizar aquele núcleo urbano, nem cortar a visão da Praça.
A cidade é uma criação do Homem e ela existe por uma necessidade histórica, representa imagens, símbolos, onde o cidadão se reconhece como parte integrante do ambiente urbano. Assim os elementos arquitectónicos a introduzir devem ter ligações com os espaços circundantes numa perspetiva global daquilo que se projecta desenvolver.
A posição dos eixos comerciais dos centros históricos aparecem muitas vezes como ponto de partida para incentivar políticas de desenvolvimento e de redefinição do papel das cidades no contexto nacional, e por isso a intervenção nesta zona poderá ser uma oportunidade um desafio para a reorientação da política de desenvolvimento da cultura urbana, mobilizando as atenções dos poderes instituídos.
Estes projectos com a respectiva mobilização de recursos, são ocasião para repensar a cidade obrigando a exercícios de imaginação com especialistas nas várias áreas e implicam que a questão não seja abordada pontualmente, com meras composições de colagens, mas sim procurando políticas dotadas de um significado global.
A dinamização comercial e turística da zona está dependente daquela cobertura? Irão por isso acorrer ao Centro Histórico mais pessoas? E este terá mais vida?
Um dos factores que têm desmobilizado o comércio no centro histórico, tem sido o problema da falta de estacionamento num raio mais ou menos próximo. Desde que acabou e bem, o estacionamento na Praça Velha, têm sido feitas várias tentativas de encontrar soluções.
Por outro lado há que mostrar e diversificar a atividade comercial a já existente, e outras a criar, quer a nível de a tornar mais visível e apelativa, quer a nível de ir ao encontro das necessidades dos seus consumidores.
O centro histórico padece também de desertificação e de movimentos humanos muito pendulares, por isso há que tentar inverter tal tendência com políticas diversificadas que sejam polarizadoras e catalisadoras para a população urbana como por exemplo a instalação de serviços.
Assim o dinamismo comercial terá de ser cruzado com uma série de outros factores, nomeadamente os turísticos e a intervenção urbana a fazer-se, deverá ser muito discreta, não funcionando como barreira visual ou técnica, descaracterizando todo aquele espaço.

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